quarta-feira, 13 de maio de 2015

A mente é tudo o que temos


“A mente é tudo o que temos. É tudo o que já tivemos. A mente é tudo o que podemos oferecer aos outros. ” Esta frase não é minha, porem representa muito, ou tudo, do que penso sobre o que somos, e o quem somos. Esta frase é do Sam Harris, que aprendi a gostar e respeitar por suas posições, seus comportamentos, e seus pensamentos. 

Nossa mente emerge da complexidade estrutural e funcional de nosso cérebro, assim é ela tão imanente como eu, você, ou a serra do mar. Somos o que nossa mente nos faz ser. Sendo ela o resultado emergente de um cérebro, que por princípio estrutural biológico, é plástico. Nossa mente é mutável, não no sentido literário da mutação genética, mas sim no sentido popular de que ela, a mente, através de nosso cérebro, está sempre sendo algo nova a cada novo instante.  Ela nos faz ser quem somos, ela nos faz perceber o mundo, ela é enfim o que, e o quem, somos. Sem projeto, ou sem criação, nosso corpo não possui nada de perfeito, possui sim grande adaptação ao nicho biológico que ocupamos, e foi vencedor em nos trazer até aqui, não é então de surpreender que a mente, sendo o resultado final de nosso cérebro, é ela também imperfeita e cheia de “falhas”, pois que é o cérebro imperfeito e com “falhas”. Dos campos científicos, o cérebro e a mente são campos ainda muito recentes, e temos muito ainda a caminhar no seu entendimento, mas já caminhamos bastante, o que não significa que estamos prestes a desvendá-lo por completo, pelo contrário, entendo que ainda temos muito, muito mesmo, a caminhar nesta área. 


Sendo a mente o que somos, e sendo ela o resultado não projetado da complexidade funcional do cérebro, tudo o que percebemos, tudo o que somos, tudo o que representamos nasce de nosso subjetivo, e é o subjetivo, de alguma espécie, o mundo como o percebemos, mas isto jamais pode ou deve ser entendido, como se o mundo não fosse real, ele o é, acima de todo o subjetivismo com que o percebemos. Não podemos olhar o mundo como algo imaginário, algo ideal, que ele exista por que o podemos perceber, ou estaremos a dizer que o universo, quem sabe o multiverso, somente existe a um espaço de tempo muito curto. Ao contrário do que já ouvi, e li, de gente boa inclusive, a lua não está lá apenas quando a observamos de forma a entender que ela exista, ela está lá mesmo que não a estejamos observando, ela está lá muito antes de nós existirmos, gostaria de comentar que se estamos hoje aqui, é porque a nossa lua entrou no circuito existencial a milhões de anos, mas isto é assunto para outro texto. Uma arvore cai na floresta isolada de qualquer ser pensante, e cai independente de que eu saiba ou venha a saber. As ondas de probabilidade não colapsam quando observamos, levando a que apenas uma se mantenha ativa, como a visão tradicional de Copenhagen defende, visões físicas “novas” muito mais coerentes com a realidade (como a decorrência), e assim com o realismo que defendo, estão cada vez mais sendo apresentadas e estudadas, mas de novo é assunto para outro texto.

Aqui, agora, em qualquer lugar, em qualquer tempo, desde que vivo, sou o que meu cérebro plástico me faz ser, pela mente que este mesmo cérebro dá sustentação à emergência. Sou múltiplo, sou mutável, sou cheio de “bugs”, sou complexo, sou animal, sou o resultado de um longo processo de evolução, sou imanente, sou real, não obstante o subjetivismo dos seres que sou. Minha mente somente existe “incorporada e entrelaçada” totalmente com a vida funcional de meu cérebro, e ela terá seu fim natural, quando este cérebro não mais for capaz de se manter funcionalmente vivo. Neste e em muitos outros aspectos sou, e somos, iguais aos demais animais, simples assim, porque temos origens comuns, deles somos parentes, somos apenas uma espécie diferenciada pela evolução, mas que tem sua origem na mesma árvore genealógica da vida. Do primeiro ser duplicador de si mesmo, até todas as espécies que hoje existem, a mesma básica biologia nos move e sustenta, os mesmos componentes genéticos, nem melhores e nem piores, nem superiores e nem inferiores, nem mais evoluídos ou menos evoluídos, somo uma espécie que se adaptou bem a um nicho, e assim temos a mesma importância, ou deveríamos ter a mesma importância biológica, genética e existencial do que todas, e cada uma, das espécies que existem e que já existiram ao longo dos mais de 3 bilhões de anos desta longa, mas linda, jornada evolutiva. O cérebro surge, não como um órgão pensante, esta funcionalidade é colateral, desenvolvida a posterior, o cérebro nasce, e é selecionado, pois que nos garantia maiores capacidades de sobrevivência. Ele inicialmente nasce para “gerenciar e controlar” o corpo, substituindo uma funcionalidade química que ajustava o corpo para a sobrevivência, mas muito menos eficaz. Com os neurônios e sensores, podíamos agora com um cérebro iniciante, sentir deficiências na biologia funcional e imediatamente informar a outros órgãos para produzir, ou reduzir, a produção de compostos, e desta forma a biologia funcional passou a ter respostas muito mais eficientes, e assim o cérebro foi ganhando camadas, novas camadas, novas “organelas” cerebrais e chegamos a um cérebro humano que é, salvo erro meu, o mais complexo “objeto” de todo universo. A mente e a consciência, são evoluções muito mais recentes, e aquele processador especificamente destinado a coordenar a biologia interna de nosso corpo, ganha a complexidade que permite a emergência de uma mente, que ainda assim é muito mais inconsciente do que consciente, e que bom que assim o seja, pois ele processa sem minha interação direta, e me permite independência do fardo de saber tudo o que está acontecendo no submundo enorme do ser, ou dos seres que sou.

Termino com a mesma frase eu iniciei, com a mesma pujante e marcante frase: “A mente é tudo o que temos. É tudo o que já tivemos. A mente é tudo o que podemos oferecer aos outros. ”


Este texto foi originariamente publicado no blog http://www.ateuracional.com.br - Ateu Racional

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